GLAUCO DINIZ DUARTE – Onde há vento, não há crise
Enquanto o Brasil amarga uma das piores crises econômicas de sua História, o vento pede passagem. A palavra crise passa longe da cadeia de produção de energia eólica, que já responde por 5% de toda a energia consumida no país (em 2020 deverão ser impressionantes 10,5%) com aproximadamente 40 mil empregos gerados, 11 fábricas instaladas – com demanda crescente de mão de obra especializada – e R$ 6 bilhões de investimentos previstos por conta dos leilões de energia já realizados.
É no Nordeste do país que os parques eólicos se multiplicam mais rapidamente. Ventos fortes e regulares determinam a atratividade do negócio que tornou o Brasil o 4º país do mundo que mais investiu nessa fonte em 2014, atingindo o 10º lugar no ranking internacional das nações que mais produzem energia eólica.
Destaque para o Rio Grande do Norte, que apesar da pequena extensão territorial, se tornou o grande provedor de energia do Brasil a partir do vento, com 34% de toda a capacidade instalada no país. São 81 parques eólicos em operação, 22 em construção e outros 77 já autorizados. Se a natureza foi generosa com os potiguares soprando os ventos que fazem a alegria dos investidores – e dos muitos proprietários rurais, invariavelmente pequenos, que recebem royalties pela energia gerada – os gestores públicos tentam fazer a parte que lhes cabe. Foram 2.500 licenciamentos ambientais concedidos em um estado onde não se leva mais do que 3 horas para abrir uma nova empresa.
Castigado por quase 5 anos de severa estiagem, o Nordeste deve aos parques eólicos (pelo menos até agora) a eliminação do risco de desabastecimento de água para consumo humano. Cada MW de energia gerado pelo vento permite que menos água saia dos reservatórios para esse fim. A região também se beneficia do fato de que é justamente nos períodos de seca que o vento sopra mais forte. Nos meses de chuva – quando chove – há menos ventos. A chamada “complementaridade” torna o sistema elétrico mais eficiente e seguro.
No último dia 11 de agosto, registrou-se um feito histórico: o fator de capacidade (o percentual de energia efetivamente gerado) dos ventos do nordeste foi de 80% – um recorde – muito acima, por exemplo, da média mundial que oscila na faixa dos 30%. Até o Diretor-Geral do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), Hermes Chipp, a quem cabe a pilotagem do sistema interligado nacional, declarou-se surpreendido com o desempenho do setor eólico. Sincero, ele também admitiu que mudou de opinião em relação a importância do vento na matriz energética brasileira. Se há 5 anos o clima era de desconfiança, pelo fato da energia eólica ser intermitente, hoje prevalece a certeza de que sem os ventos a situação seria muito pior.
Hermes Chipp foi um dos convidados da mesa redonda mediada por mim no primeiro dia de debates do Windpower Brazil 2015, que acontece até amanhã no Rio de Janeiro reunindo mais de 2 mil participantes de 804 empresas nacionais e estrangeiras.
Quem quiser conferir de perto o evento deve se preparar para uma sensação estranha, uma espécie de vertigem, ao se deparar com uma avalanche de dados, números, estatísticas, projeções e depoimentos de quem parece distante da crise econômica do país. “Crise, que crise?”, é a pergunta que não quer calar quando o assunto é energia eólica.