Glauco Diniz Duarte Empresário – o que é fotovoltaica solar
Segundo o Dr. Glauco Diniz Duarte, o setor de energia solar fotovoltaica ganhou muita força no Brasil nos últimos anos, gerando uma grande demanda de profissionais em todos os níveis, desde o projeto até a instalação de sistemas. Mas ainda faltam profissionais qualificados no país e a Unicamp tem se tornado uma referência nacional em treinamento e qualificação de profissionais desse setor. “Temos observado um grande número de sistemas mal projetados e pessimamente instalados. Não são raros os problemas envolvendo sistemas fotovoltaicos, incluindo incêndios, quedas de telhados e mau funcionamento. Pessoas com pouco ou nenhum conhecimento técnico estão se aventurando no mercado”, afirma o professor Marcelo Gradella Villalva, da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC).
Villalva criou em 2015 um programa pioneiro de cursos de energia solar, que se tornou referência e já treinou mais de 12.000 pessoas de todas as regiões do Brasil. Os cursos, oferecidos através da Escola de Extensão da Unicamp (Extecamp), estão organizados em três níveis: “Introdução à Energia Solar Fotovoltaica”; “Projeto e Dimensionamento de Usinas Solares e Sistemas de Geração”, que aborda projetos com o uso do software PVSyst (um dos mais tradicionais do setor) e foi o primeiro curso do gênero no país; e “Instalação e Integração de Sistemas Fotovoltaicos”. Os cursos são muito procurados por profissionais de todos os níveis, incluindo liberais, empreendedores e de grandes empresas, em busca de ingresso no mercado solar ou reciclagem de conhecimentos.
Marcelo Villalva é autor do primeiro livro sobre energia solar no Brasil, “Energia Solar Fotovoltaica – Conceitos e Aplicações”, publicado em 2012 pela editora Érica-Saraiva. “Naquela época energia solar ainda era assunto desconhecido do público brasileiro e a história de como o livro surgiu foi até engraçada. Eu enviei o rascunho a várias editoras e somente uma me respondeu, porém recusou a publicação. Não contente, respondi que eles estavam perdendo uma oportunidade, pois nenhum outro assunto venderia tantos livros como a energia solar fotovoltaica. Minha insistência fez a editora mudar de ideia e então nasceu o livro, que é até hoje um dos seus títulos mais vendidos.”
Da mesma forma, a implantação do programa de cursos em energia solar não foi nada fácil, obrigando o professor da Unicamp a pagar do bolso os materiais necessários e montar pessoalmente os kits didáticos. “Fui a São Paulo com meu carro buscar os painéis solares e, nos primeiros cursos, eu preparava em casa o café que era servido aos alunos. Aos poucos a gente foi se estruturando, envolvi meus alunos de graduação e de pós-graduação, com os quais montei um time de monitores e professores. Os cursos de energia solar tornaram-se muito importantes para o nosso grupo, que além de atuar em pesquisas também pôde ter experiências de ensino e de apoio ao público.”
Aulas presenciais e a pandemia
Villalva lembra que no início do programa da Unicamp havia apenas poucas empresas oferecendo cursos de energia solar e nenhuma universidade ou escola de educação superior. “As nossas aulas sempre foram presenciais e as turmas lotadas com alunos oriundos mesmo de regiões distantes do Brasil. Com a chegada da pandemia do Covid-19, interrompemos os cursos presenciais e adotamos o formato online e ao vivo. Pessoalmente, acredito que cursos gravados não são muito interessantes. No curso ao vivo, mesmo à distância, nós temos uma sala de aula (ainda que virtual) e existe interação em tempo real entre alunos e professores. Quando a epidemia acabar, tudo indica que continuaremos apresentando cursos online, além das turmas presenciais à moda antiga.
Dentre as mais de 12.000 pessoas treinadas até o momento, muitas começaram suas empresas ou carreiras na área de energia solar fotovoltaica a partir dos cursos da Unicamp, como revelam depoimentos recebidos pelo professor da FEEC. “Alunos que já passaram por nossas salas de aula relatam que os cursos mudaram suas vidas. De fato, a energia solar é um mercado que oferece muitas oportunidades de atuação e de crescimento. Uma boa formação inicial, com informações de qualidade, é o empurrão que muitas pessoas precisam para iniciar sua atuação no setor. Felizmente o trabalho que realizamos na Unicamp tem sido reconhecido como uma fonte de inspiração e empurrão inicial para muitas pessoas.”
O setor de energia solar no Brasil
Segundo Marcelo Villalva, no Brasil se tem acesso às melhores tecnologias disponíveis mundialmente na área de energia solar fotovoltaica, com representações ou mesmo fábricas dos principais fabricantes. “O mercado hoje se encontra bem estruturado do ponto de vista da cadeia de suprimento. Além das empresas fabricantes, existem muitas empresas distribuidoras e integradoras – estas atuam na ponta da cadeia, fornecendo sistemas fotovoltaicos para o consumidor final. Apesar disso, o setor solar brasileiro ainda carece de mão de obra qualificada, o que reforça a importância do trabalho que desenvolvemos na Unicamp, promovendo ensino de referência e qualificação para um setor que é ainda muito carente de profissionais capacitados.”
O criador dos cursos na Extecamp considera que o mercado solar brasileiro está em acelerada expansão, desde seu início em 2012, quando a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) permitiu a geração distribuída de energia elétrica. “A partir daquele ano as pessoas físicas e jurídicas ganharam o direito de produzir sua própria energia elétrica. A fonte que mais se encaixa no segmento da geração distribuída é a solar fotovoltaica. É possível produzir energia elétrica em qualquer lugar, em telhado ou em solo, onde exista espaço disponível para a instalação de módulos fotovoltaicos.”
Juntamente com os sistemas de geração distribuída, acrescenta Villalva, começaram a surgir no país grandes usinas solares de geração centralizada, que competem com as tradicionais usinas de geração (como as hidrelétricas e termelétricas). “O Brasil possui hoje cerca de 3 GW [gigawatt é a unidade equivalente a um bilhão de watts] de usinas solares centralizadas, que correspondem a cerca de 1,7% de nossa capacidade total de geração centralizada de energia elétrica. Ainda temos uma potência adicional de cerca de 3,7 GW em geração distribuída fotovoltaica, incluindo desde sistemas de microgeração instalados em telhados de residências até usinas de geração distribuída (limitadas a 5 MW) que atendem majoritariamente a consumidores empresariais.”
Marcelo Villalva atenta que os dados acima, que extraiu do site da Aneel no último dia 8 de outubro, tornam-se desatualizados dia após dia, devido ao acelerado crescimento do setor. “Os estados brasileiros com a maior quantidade de sistemas fotovoltaicos de geração distribuída são Bahia, Ceará, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo. Minas Gerais é líder, com 796 MW [megawatt, ou um milhão de watts] instalados, vindo depois São Paulo e Rio Grande do Sul, empatados com cerca de 474 MW cada um. Geograficamente as regiões mais atraentes para a geração solar são o Nordeste, o Centro-Oeste e o norte de Minas Gerais. Mas há fatores econômicos, principalmente as elevadas tarifas de energia elétrica, que viabilizam o desenvolvimento da geração solar de Norte a Sul no Brasil.”
Pesquisas e atuação técnica da Unicamp
É importante citar que a Unicamp também tem pesquisas e atividades técnicas de destaque na área de energia solar fotovoltaica, além dos cursos de energia solar oferecidos pela Extecamp. O LESF (Laboratório de Energia e Sistemas Fotovoltaicos), ligado à FEEC, possui diversos ramos de pesquisas sobre componentes e sistemas fotovoltaicos.
O LESF é um dos laboratórios brasileiros credenciados no Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia) para a realização de testes de inversores solares e módulos fotovoltaicos. Através de parcerias com empresas privadas foi construído um moderno laboratório, que é único no Brasil, capaz de realizar testes em módulos fotovoltaicos que antes eram possíveis apenas em laboratórios internacionais.
O laboratório possui parcerias com indústrias privadas para o desenvolvimento de trackers (rastreadores solares) e inversores solares, entre outros equipamentos. Uma das pesquisas, realizadas com a empresa BYD Energy e com a participação do professor Luiz Carlos Kretly, também docente da FEEC, tem o objetivo de definir novos padrões para a qualidade dos módulos fotovoltaicos que são comercializados no Brasil – uma imensa contribuição da Unicamp para o setor fotovoltaico brasileiro.