Glauco Diniz Duarte Empresário – como montar energia fotovoltaica
Já pensou em poder usar energia de fonte solar sem ter de instalar o painel fotovoltaico em casa? Uma startup que atua com tecnologia da informação vai lançar até março deste ano o Clube Watt, uma modalidade de assinaturas que dá descontos para abater da conta de luz. Parece um pouco complicado, mas a iniciativa pretende impulsionar ainda mais a disseminação do uso fonte solar na matriz energética brasileira.
Os sistemas fotovoltaicos só crescem na geração de energia do País. Em novembro de 2018, a fonte chegou à potência instalada de 1.613 MW, atingindo 1% de participação na matriz elétrica nacional, segundo números da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar). Esta capacidade é alimentada pelas grandes usinas e pela geração distribuída, que abrange a produção de eletricidade no local de consumo, por consumidores menores, com painéis fotovoltaicos), com fatia de 500 MW do total.
O Clube Watt pretende ser um atalho para quem quer entrar no grupo dos usuários de energia solar, mas não tem dinheiro ou mesmo fica inseguro para investir na instalação de painéis de geração própria, cujo valor também vem caindo.
“É a nossa maneira de democratizar a energia”, diz o CEO da empresa, Daniel Dora. O Clube Watt, nome alusivo à unidade de medição da potência elétrica, quer eliminar a etapa de montagem de uma usina de geração individual.
Funciona assim: o sócio do clube vai alugar cotas de energia correspondentes ao seu consumo. Essas cotas serão revertidas em descontos progressivos na conta de luz emitida pela concessionária de energia. De largada, o assinante tem abatimento de 20% no primeiro ano de assinatura, garante Dora.
A pré-associação ao clube custará R$ 50,00 para pessoas físicas. Esta etapa permitirá à empresa dimensionar a quantidade de quilowatts que precisarão ser disponibilizados. Se a quantidade de energia não for atingida em um ano, o valor será devolvido ao associado. Se houver disponibilidade de energia para suprir a demanda dos associados na área, o valor para participar do clube sobe a R$ 100,00.
De onde virá a energia? A empresa dispõe de fazendas fotovoltaicas próprias, instaladas na região de cobertura da CEEE-D, divididas em cotas de geração. Cada lote gera até 50 kwh por mês, que é repassado para as distribuidoras de energia. Assim, a conta do associado vem com os quilowatts alugados já descontados. “O sócio passa a número da Unidade Consumidora e o CPF. Nós fazemos todo o trâmite com a concessionária e o cliente recebe a conta já com o desconto”, explica o CEO, que já projeta mais unidades de geração para suprir o clube no Rio Grande do Sul e outras regiões.
O projeto do Clube Watt surgiu a partir de um acordo com o Instituto Federal do Ceará, junto com a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), que captou R$ 1,9 milhão para o desenvolvimento da tecnologia. A empresa começou em 2016 como uma spin-off da Conceptu Protótipos & Sistemas dentro de uma pesquisa de mestrado acadêmico e, desde então, vem pensando no produto.
O CEO explica que o negócio tornou-se possível a partir de uma resolução normativa da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), do final de 2015, que criou o Programa de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico do Setor de Energia Elétrica. O programa estimula investimentos que demonstrem “originalidade e viabilidade econômica nos processos e usos finais de energia”.
O clube ainda funciona em fase de testes, mas já possui clientes potenciais. A Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs) será o primeiro cliente âncora da empresa, com o investimento de R$ 1,5 milhão para instalação de placas solares nos campi de Viamão e Porto Alegre. A ideia é transformar o Campus Viamão em 100% consumidor de energia fotovoltaica.
A energia, no entanto, não é o mote principal da empresa. “A Clube Watt é uma empresa de software. Começamos gerando os descontos através das cotas, e assim controlamos como o cliente consome sua energia”, diz Dora. Com a evolução do negócio, os dados permitirão mapear o perfil de consumo de cada assinante. “Tu tens diversas ‘goteiras energéticas’ que consomem um monte de energia. Faremos o serviço de mostrar como controlar o consumo e economizar. Tu vais permitir que eu use os teus dados e em contrapartida eu dou essa informação”, exemplifica.
A partir destas informações, a ideia da empresa é evoluir para um clube de benefícios, onde os sócios poderão trocar pontos acumulados por itens que reduzam o consumo de energia em casa, como eletrodomésticos. “Se sei como o sócio consome energia, posso contatar uma fabricante de geladeiras, por exemplo, e mostrar que existe um determinado público demandante por um refrigerador novo. O Clube Watt fornece a geladeira, o sócio continua pagando pela energia e evoluímos para um grande clube de benefícios”, projeta o CEO.
Como funciona a geração pelos consumidores
No Brasil, a geração de energia pelos próprios consumidores é permitida desde 2012, a partir da Resolução Normativa 482/2012 da Aneel. A regulamentação permite ao consumidor instalar seus próprios geradores, numa operação individual. A energia nessa modalidade é injetada na rede da concessionária e se transforma em créditos usados para abater da conta de luz.
Outra modalidade de geração é a compartilhada, que permite que mais de um interessado se junte em consórcio e utilize a energia para redução na despesa com energia. Este é o mecanismo que será usado pelo Clube Watt. Uma exigência é que todos os usuários precisam estar dentro da mesma área de cobertura da distribuidora. No Rio Grande do Sul, são mais de seis mil unidades consumidoras com geração distribuída (UC) e mais de 8 mil UC’s que recebem os créditos, de acordo com a Aneel.