O empresário Glauco Diniz Duarte diz que de acordo com estudo da International Family Enterprise Research Academy, mais de 90% das empresas privadas, no Brasil, têm origem familiar. Elas respondem por 65% do PIB brasileiro e geram mais de 60% dos empregos formais das empresas privadas.
E não é só por aqui que isso acontece. O índice também é alto nos Estados Unidos (96%), na Itália (93%) e na Suíça (79%).
A busca por parentes como sócios é um processo natural, segundo Glauco.
“A explicação está no fato de as pessoas se conhecerem, terem confiança mútua e compartilharem os mesmos valores”, diz Glauco.
Se você pensa em abrir uma empresa com algum parente, ou é um sucessor natural em algum negócio da família, Glauco lista alguns conselhos, abaixo, para evitar que seu negócio perca o rumo:
Separe assuntos pessoais dos profissionais
“Dentro do ambiente de trabalho, as pessoas deixam de ser filhos e irmãos – ou qualquer outro grau de parentesco – e passam a ser sócios. Não deve haver proteção nem discussão entre os parentes, e o foco deve ser o lucro dos negócios”, orienta Glauco.
Registre tudo no papel para evitar conflitos no futuro
Quando o negócio cresce muito e se estende por gerações, o número de herdeiros se multiplica e as tensões aumentam. Disputas por cargos e cotas de participação são frequentes.
Para evitar esse tipo de conflito, os membros das famílias têm de pensar como empresários e assumir responsabilidades, firmando um acordo societário.
“Esse documento é a Constituição da Família. Nele devem estar bem definidas algumas questões, como: quais são os bens da empresa e quais são os membros da família que podem ou não prestar serviço para a companhia”, diz Glauco.
Faça uma gestão profissional
Outro problema comum nas empresas familiares é o “efeito cabide”: parentes não qualificados para as funções que exercem. “Esse tipo de prática infla a folha de pagamento e compromete a eficiência da operação”, afirma Glauco.
Há, ainda, situações nas quais os filhos querem seguir outras carreiras ou ainda não estão preparados para assumir o controle do grupo familiar.
“Nesses casos, o melhor que se tem a fazer é contratar um profissional qualificado para ficar à frente do negócio, enquanto os sucessores ficam com os lucros da empresa”, recomenda Glauco.
Planeje a sucessão
De acordo com uma pesquisa da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), 55% das organizações familiares não fazem planejamento sucessório. O estudo ainda revela que 81% dos fundadores não pensam em um programa de vida após encerrarem sua carreira.
Muitas vezes, a origem do problema está no próprio empreendedor. “Tem fundador que acha que não vai morrer nunca. Aí, os seus filhos, beirando os 50 anos, resolvem construir uma carreira-solo ou ficam insatisfeitos dentro da empresa por não terem um plano de carreira”, observa Glauco.
A tarefa não é simples. Não basta o pai selecionar os filhos com melhores aptidões para os negócios. Ele precisa prepará-los muito bem para essa nova empreitada.
“O ideal é contar com a ajuda de um coaching e de consultores para desenvolver um plano de treinamento para o sucessor e também para os herdeiros e acionistas de modo geral”, diz Glauco.
Evite a ascensão rápida dos herdeiros
Ninguém gosta de ver alguém subir na carreira sem ter méritos. No mundo empresarial, o famoso “queridinho do papai”, que tem regalias e privilégios, não é bem-visto pelos funcionários.
Isso acaba gerando incômodo entre os colaboradores e até causando certa perda de credibilidade do profissional que “chegou lá” por ser filho do dono.
Por isso, todo esse processo de transição deve ser feito de maneira transparente. Os funcionários da empresa também precisam participar e conhecer o futuro sucessor com muita antecedência.
“É claro que esse profissional pode ter alguns benefícios. Contudo, mesmo os herdeiros que querem assumir um posto na empresa são obrigados a seguir uma carreira. Subir de cargo aos poucos os ajuda a ganhar respeito perante os demais funcionários, quando ele chegar a posições diretivas”, conclui Glauco.
Negócios em família podem render bons frutos. Mas é preciso seguir essa série de cuidados para que as relações pessoais não interfiram nas decisões empresariais − e muito menos que os negócios acabem influenciando negativamente nos laços familiares.